Desembargador do TRE-PE lança novo livro de contos

Desembargador do TRE-PE lança novo livro de contos

Desembargador do TRE-PE lança novo livro de contos

 Quem assiste às sessões plenárias do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE), com toda a seriedade e formalismo que pedem os julgamentos, não sabe que entre os desembargadores, sentado ali, sereno, à direita de quem está no auditório, há um literato de mente inquieta. Os quase 40 anos de magistratura de Vladimir Souza Carvalho se entrelaçam com uma vida inteira de prosa e poesia. Vladimir começou a escrever aos 5 anos, na sua Itabaiana (SE) natal. Era 1955. Numa manhã como tantas outras, levou um pequeno texto para a apreciação de sua mãe. Dona Maria de Souza Carvalho parou de cozinhar por alguns minutos, leu o que o filho havia escrito, ficou calada e só teceu um comentário décadas depois. Nesta segunda-feira, dia 11 de dezembro, Vladimir expõe no térreo da sede do TRE seu mais novo trabalho, Fogo de Monturo, cujo título faz referência ao sexo. “É um fogo que queima por baixo”, explica.
    Vladimir Souza Carvalho integra o pleno do TRE-PE como desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região, cargo que exerce há 10 anos. Em se tratando de Justiça Eleitoral, antes de chegar ao Regional de Pernambuco, foi desembargador no Piauí, Alagoas e Sergipe. A vida de magistrado começou em 1978, quando passou num concurso público e se tornou juiz de Nossa Senhora da Glória, no Sertão de Sergipe. Como um estudioso da lei, já publicou dezenas de artigos e livros sobre direito, inclusive a obra Competência da Justiça Federal, 1990, referência para o mundo jurídico. A paixão pela literatura, porém, veio antes.
    Ele costuma pontuar o início da vida de poeta e escritor dizendo que criava acrósticos no primário. Depois, enveredou para os versos e, já no antigo curso ginasial, com os horizontes em expansão, escreveu um conto que venceu um concurso.  Deixando a amada Itabaiana para trás, já em Aracaju, se sentia um homem de poesia e prosa.
    Aos 21 anos, em 1971, transformou em realidade sua obra Quando as cabras dão leite, primeiro livro de contos publicado em Sergipe por um sergipano. No ano seguinte, veio Sinal Verde, Trânsito Vermelho, depois Santas Almas de Itabaiana Grande. Foi a primeira vez que a história da cidade se viu contemplada num livro. A repercussão entre os moradores foi tanta que a prefeitura, provocada pelas linhas de Vladimir, criou o primeiro feriado municipal em homenagem à cidade, consagrando o dia de sua emancipação política.
     Em 1976, foi publicado Caxangá na história de Itabaiana, outro mergulho nas entranhas históricas de seu amado rincão.  A produção literária com base nas suas raízes é composta também por obras folclóricas, como Adivinhas sergipanas, Santas almas de Itabaiana, República Velha em Itabaiana, Vila de Santo Antônio e Almas de Itabaiana e Apelidos de Itabaiana, que recentemente foi ampliado de 5 mil para 10 mil apelidos. Pedi que o autor citasse algumas alcunhas próprias de sua terra. “Tem muitas. Cochilo de jegue, que é sobre ronco, Criado com fumaça, Tampa de penico, Tamborete de cortar fumo e por aí vai”, diz o desembargador, com sorriso nos lábios e um olhar de quem analisa a reação do interlocutor.
    Entre 1995 e 2009, os contos passaram a ter temáticas mais universais, cotidianas. Foi o período de Mulungu desfolhado, Água de cabaça e Feijão de Cego, todos da Editora Juruá. Sobre Feijão de Cego, publicado em 2009, vale um parêntesis. A obra alçou Vladimir Souza Carvalho ao posto de maior representante literário do Estado de Sergipe, segundo seleção da Revista Superinteressante. Na reportagem, Vladimir aparece ao lado de Érico Veríssimo (Rio Grande do Sul), Graciliano Ramos (Alagoas), Machado de Assis (Rio de Janeiro), João Guimarães Rosa (Minas Gerais) e Jorge Amado (Bahia), só para citar alguns mestres de nossa literatura. Acrescente-se nesta relação José Lins do Rego e Rubem Braga e temos os autores que mais inspiram Vladimir.
    E eis que surge agora Fogo de Monturo, nova obra do magistrado-literato. São 36 contos. Metade, eróticos. Toda a linguagem é elegante e poética. Não há palavrões. Quer dizer, há, sim, apenas um. E está lá porque o autor não conseguiu, de jeito nenhum, evitá-lo. Para o bem da narrativa. Algumas histórias, com seu realismo fantástico e finais surpreendentes, lembram os devaneios geniais de Gabriel Garcia Marquez entrelaçados com um humor à Pedro Almodóvar.
    As histórias surgem da cabeça do escritor em momentos os mais inesperados. É quando ele decide o perfil dos personagens e se escreverá na primeira ou na terceira pessoa. “A ideia já vem pronta. Tenho minhas inspirações e decido se vou contar no ‘eu’ ou no ‘ele’”, diz Vladimir.
    Para o futuro, entre outros trabalhos em fase de elaboração, o escritor diz que tem prontos três livros que, cronologicamente divididos, formam uma espécie de autobiografia. Crônicas da infância vivida, Crônicas da vida e da morte corriqueiras e Crônicas da faculdade ao tribunal.
    Em uma dessas obras, provavelmente na que trata do menino Vladimir, o escritor deverá revelar o que sua mãe disse muitos anos depois daquela manhã na cozinha da casa, em Itabaiana. Atenção para o spoiler literário. “Ela disse que eu poderia ser reencarnação da minha avó paterna, Querubina Etelvina de Carvalho Lima. ” Por que ela achou isso? “Minha bisavó era poeta e fazia teatro”, explicou Vladimir Souza Carvalho, olhando para o relógio e se apressando para mais uma sessão no pleno do TRE. 

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