Rebeldia, música e amor ao País no Eleitor do Futuro de Carpina

Programa do TRE-PE reúne jovens da Mata Norte do Estado para estimular a consciência política através das artes

Rebeldia, música e amor ao País no Eleitor do Futuro de Carpina

Intercalar trechos do samba-exaltação Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, com Chega, rap crítico e contundente, de Gabriel o Pensador, pode ser uma demonstração poética de que os jovens amam seu País, mas não estão nem um pouco satisfeitos com aqueles que o governam. Este mix entre o patriotismo e a rebeldia talvez tenha sido a síntese da mais recente edição do Eleitor do Futuro, programa do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) voltado para as novas gerações.

Na última quinta-feira (26/04), o Eleitor do Futuro aconteceu em Carpina, Mata Norte de Pernambuco. Coordenado pela Escola Judiciária Eleitoral (EJE), o programa estimula os jovens a se manifestarem através de música, peças teatrais, poesias, teatro e outras formas de arte. A ideia é mostrar que só com conscientização política poderemos transformar o atual quadro do País.

Durante o evento, normalmente pessoas com histórias edificantes contam sua trajetória de vida como forma de mostrar que, sim, é possível superar os obstáculos. Desde 2006, mais de 50 mil jovens pernambucanos passaram pelo Eleitor do Futuro. "Potencializamos o Eleitor do Futuro porque sabemos que a formação política e cidadã dessa juventude depende da educação, da formação política", diz o diretor da EJE, Delmiro Campos.

Voltemos à inusitada fusão de Ary Barroso com Gabriel o Pensador. Passava das 15h quando Iara Danielle, Yara Kelly, Niélida, Victor, Mariana, Líliti, Raniele, Ítalo, Nelson, Paola, Eliana, Victoria, Rayane, Alissandra, Jaqueline, Ana Carolina e Milena subiram ao palco da Faculdade Luso Brasileira (Falub), de Carpina. Bandeiras do Brasil à mão, os alunos da Escola Jáder de Andrade, de Timbaúba, deram seu recado com música e dança. E entre versos de "Meu Brasil, brasileiro, meu mulato inzoneiro" e "(...) o Brasil, verde que dá para o mundo admirar" interrompidos por "(...) a gente é saco de pancada. Há muito tempo e aceita porrada da esquerda, porrada da direita" e "(…) a corda no pescoço do patrão e do empregado. Quem trabalha honestamente tá sempre sendo roubado", a meninada mandou seu recado. Rebeldia e amor numa só manifestação.

Antes do musical, porém, outros atrativos já criaram o clima de um evento que, com tintas de arte, enaltece a educação. Após o Hino Nacional Brasileiro tocado em flauta transversal pela aluna Thayana dos Santos Pereira, da Dom Viera, de Nazaré da Mata, o jovem Rafael Cavalcante se apresentou.

Um pequeno parêntesis: Rafael é um garoto de 17 anos, aluno da rede pública de Palmares, na Mata Sul do Estado. Há cerca de dois meses, no Eleitor do Futuro que o TRE-PE promoveu na sua cidade, Rafael foi o grande destaque. Cantou sua música Qual o Brasil que Você Quer, um verdadeiro hino contra a corrupção composto 24 horas antes da apresentação, e saiu aplaudido de pé. Algumas pessoas choraram de emoção ao ouvir o tímido Rafael, que, por intermédio do TRE-PE, gravou recentemente sua canção em estúdio, no Recife.

Em Carpina, falando a meninos e meninas de sua faixa etária, Rafael contou rapidamente sua história e entoou a música, cuja letra passava num telão. Mais emoção, mais palmas. Como se estivessem vendo naquele menino o próprio reflexo, a plateia, a exemplo de Palmares, o aplaudiu novamente de pé.

E como o show deve sempre continuar, Rafael desce sorridente para dar lugar a uma peça em tom de cordel protagonizada pelos alunos Meirilene da Silva e Victor de Barros, ambos da Escola Joaquina Lira, de Aliança. Desenvoltos, os garotos dialogam poeticamente num tom humorístico repleto de mensagens políticas. "Não venda seu voto por nada", diz Victor a certa altura da apresentação.

E a juventude segue mostrando seu valor em Carpina. O testemunho de Júlio César de Moraes, da Escola Jaime Coelho, dá ao evento uma atmosfera de emoção. Ele lê uma carta revelando que não dava valor ao voto e agora afirma que mudou de ideia, finalizando com um conselho: “Todos devem andar de cabeça erguida e se afastar de tudo que é ruim”.

Como um evento cultural numa região marcada pela cultura da cana não poderia deixar de ter um maracatu, estudantes da escola Maciel Monteiro, de Nazaré da Mata, dão conta da missão. Sopros e batidas tradicionais, apitos, caboclos de lança e versos com temática social se propagam no auditório da faculdade.

O Eleitor do Futuro vai se encaminhando para seu desfecho quando Marinês Marques Viana, juíza da 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço da Mata, fala aos estudantes sua história de superação. Ela conta suas dificuldades desde que era criança, em Carpina. Fala do esforço para estudar e as pequenas vitórias que nos vão servindo de combustível ao longo do caminho. Os alunos ouvem com atenção.

Normalmente, o grand finale de todo Eleitor do Futuro fica a cargo do servidor Eduardo Japiassu, coordenador da EJE. Com sua formação teatral e jeitão expansivo, cativa os estudantes dias antes do evento. Dias antes? Segundo e último parêntesis: A realização de um Eleitor do Futuro exige planejamento. Bem antes da parte festiva, Japiassu, junto com o servidor Jeovane Ramos, que coordena o projeto, a servidora da EJE Danielle Bernhoeft, além de Álvaro Pastor do Nascimento, chefe do cartório de Altinho (48ª Zona Eleitoral), participam de reuniões com alunos e lideranças locais. Aliás, foi exatamente essa atuação do grupo que permitiu ao TRE conseguir o auditório da Falub. Solícito, o diretor da Faculdade, Mauri Vieira Costa, não poupou esforços para colocar a casa à disposição de um programa tão encantador.

Pois bem, de volta ao evento. Japiassu toma o microfone nas mãos, canta, provoca os alunos, volta a cantar e, como de praxe, encerra com os versos de Mário Quintana. "Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada". Aos poucos, a julgar pelo brilho nos olhos da meninada, parece que o verso do poeta gaúcho já encontrou amparo naquela plateia.

Seguindo a mesma linha, a de que não podemos viver só por viver, o presidente do TRE-PE, Luiz Carlos de Barros Figueirêdo, também revela sua visão sobre o ato de sonhar. "Sonhem grande. Sonhem sempre grande. Dá o mesmo trabalho de sonhar pequeno. Cada vez que eu participo de um evento como esse, fico mais jovem", diz. De fato, parece que ninguém é mais o mesmo depois de um Eleitor do Futuro.

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