Sertaneja é exemplo de participação política feminina na 3ª idade
Apesar de não ser mais obrigada a votar, a aposentada triunfense Diana Lopes, de 75 anos, faz questão de exercer sua cidadania antes, durante e após as eleições

Quem acompanha a luta pelos direitos das mulheres e o quanto essa discussão tem ganhado espaço nos últimos tempos, muitas vezes não sabe o quão recentes são algumas das conquistas para o gênero feminino do ponto de vista histórico.
Para se ter uma noção, até 1932, as mulheres sequer podiam participar da vida política do país, uma vez que eram proibidas de votar. Hoje, por mais que o cenário brasileiro ainda não seja o de igualdade de oportunidades entre os gêneros, foi graças a mulheres desbravadoras que muitas barreiras foram ultrapassadas.
Um desses exemplos de cidadania é a professora aposentada Diana Lopes, natural de Triunfo, no Sertão do estado. Aos 75 anos, ela faz questão de participar das eleições e não abre mão de seu direito ao voto, mesmo que facultativo. “Se eu deixo meu título guardado na gaveta que cidadania é essa? Tento passar essa mensagem para os jovens, ser um exemplo e ter voz ativa para depois poder cobrar”, defende.
Além de eleitora, a historiadora já foi mesária, presidente de seção eleitoral, escrevente de cartório e parte do tribunal de juri. A tradição na Justiça Eleitoral, na verdade, veio do pai, Aloísio Lopes, que era escrevente de cartório. Como na época não existiam as facilidades dos computadores, boa parte do serviço prestado era feito a mão ou então na máquina de datilografia. Para ajudar na labuta, Diana e seus irmãos estudavam durante o dia e trabalhavam à noite ajudando o pai.
Em sua convivência com o Eleitoral, iniciada desde muito cedo, Diana presenciou uma série de transformações e acontecimentos um tanto inusitados em Triunfo. De apurações que duravam duas semanas e se estendiam madrugada adentro a fraudes e tentativas de obstrução do processo eleitoral, a aposentada recorda-se com saudosismo até mesmo dos momentos mais tensos.
Nesse sentido, ela lembra da vez em que, na década de 50, um candidato subiu no telhado do fórum da cidade e violou a urna de lona para trocar os votos nela contidos. Para afastar a fama de “terra em que os votos caem pelo fundo”, apelido dado pelos moradores do município depois do imbróglio, Diana passou a levar a urna para dentro da própria casa. “Guardava ela a sete chaves no meu guarda-roupa”, conta a triunfense.
Assim como as interferências políticas e as burocracias ficaram para trás em detrimento da segurança e da celeridade do processo eleitoral, Diana Lopes assistiu e também foi parte das transformações no mundo feminino. Quando jovem, a vontade de aprender a dirigir, por exemplo, instigava comentários preconceituosos como a acusação de que ela “queria ser homem” pelo simples desejo.
Mesmo assim, ela continuou desafiando as convenções da sociedade: formou-se, virou pesquisadora e ocupou cargos na esfera pública, como o de secretária de turismo e cultura da cidade de Triunfo. Tornou-se ainda escritora e fez de sua própria casa um museu cujo acervo abarca móveis, adornos, louças antigas, telas de artistas locais e fotografias que contam a história da família e da cidade que tanto admira.
A historiadora é também muito conhecida pelo seu trabalho em comunidades carentes, como a do Alto da Boa Vista, e por ter solicitado, junto à Câmara de Vereadores, o reconhecimento dos Caretas, folguedo símbolo do carnaval local, como Patrimônio Cultural do Município. É por isso que, mesmo agora na “terceira idade”, Dona Diana não poderia fazer diferente. Segue envolvida não apenas com a brincadeira dos Caretas e outras manifestações locais, a exemplo do grupo de xaxado triunfense, mas também com o processo político brasileiro. Tanto que não se vê sem participar dele: “Deus me livre de eu não votar”, frisa.
No Mês Internacional das Mulheres, a história da eleitora de Triunfo é mais do que uma inspiração para todos os que prezam pela democracia. É um exemplo de luta.